26/01/2011

LAPINHA DA SERRA - RIACHO DOCE - XRE 300 - SAHARA - 4 AMIGOS




“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”
Amyr Klink



Sábado, 15 de janeiro de 2011 - Debaixo do maior temporal, saímos de Belo Horizonte às 16h00min horas, logo que o Azevedo chegou provenientes de João Monlevade 130 km de BH em sua Sahara abarrotada de apetrechos para acampamento.

Nesta hora o Azevedo já havia rodado mais de 130 km e tomando todos os banhos de chuva possíveis para um dia inteiro.

Sob uma chuva fina, chegamos à serra do cipó, por asfalto, às 19 horas e a Andréa não conhecia o local então fizemos as primeiras apresentações e já mostrando as lindas pousadas, bares e a vistosa cachoeira “Véu da Noiva”.

Não demoramos, pois sabíamos que ali só era o começo da nossa viagem.


A estrada até a cidade de Santana do Riacho, que se inicia em frente à portaria da ACM, está em obras, e no inicio já percebemos o que nos espera – muito buraco e poças de lama, algumas com mais de 5 metros de comprimento, aonde precisamos entrar devagar, pois não sabíamos a profundidade, mas como a estrada possui um fluxo considerado alto de veículos, avaliamos que não havia necessidade de se “testar” as poças – normalmente usamos pedaços de madeira para visualizar conferir.

 Depois de alguns Km andando a 10 a 15 km/h chegamos ao início das obras de pavimentação da estrada - importante obra para a região e percebemos que eles estão asfaltando uma estrada de terra com seu desenho original e não com um projeto rodoviário, só andando com cuidado redobrado mesmo.


 Em falar nisto, como não podia deixar de contar - faltando 200 metros para chegar neste asfalto, nos deparamos com uma grande subida e aproveitamos e impomos maior velocidade, mas a estrada se encontrava um quiabo (foto) e na metade da subida e depois de uns sustinhos de rabeadas e a namorada gritando Mozinho!! Mozinho!!!, olho no retrovisor e vejo a Sahara rebolando de um lado pra outro, chicoteando e lançando, nesta situação, seu “passageiro” ao barro. No primeiro momento, assustamos muito e custamos a virar por causa da pista escorregadia e voltamos para ver as conseqüências e me deparo com a moto ao chão e o Azevedo curvado com a mão no joelho. Pensamos que precisaríamos voltar ou procurar ajuda, mas por felicidade ele estava nesta posição, pois estava desintegrando em gargalhadas – ainda bem!

Fechamos a gasolina, e estudamos como levantar uma moto de 110 KG com mais uns 20 kg de bagagem e na lama. Avaliamos as avarias e constatamos que além da raiva do piloto com o ego afetado e a moto e seu ocupante todos lambuzados de barro - nada estragou, claro que na hora de ir embora eu não iria perder a piada e zuei o amigo. A partir daí nitidamente ficamos mais cuidadosos, diminuindo ainda mais a velocidade e continuamos agora pelo asfalto.


Como disse a Andréa ao ver o reinício da estrada de terra a uns 5 km: - Felicidade de pobre dura pouco - e neste momento já era noite e a chuva fraca, mas intermitentemente continuava a nos acompanhar.


Chegamos à linda cidade de Santana do Riacho e o Professor e presidente da câmara dos vereadores Sr Neilton nos recepcionou e explicou as atualidades políticas, sócias e principalmente dos novos desafios estruturais da cidade com a chegada do asfalto e com ele a previsão de novos turistas. 


Expliquei que a BH Adventure é formada por pessoas que gostam de viajar, esportes radicais de várias modalidades, aventuras e acima de tudo gostamos do contato com a natureza e contamos dos projetos turísticos nas cidades e institutos que conhecemos.



 Resolvemos nos alimentar com algo mais leve para podermos continuar a viagem e adquirimos tres Sanduíches X-tudo duplo e enquanto esperávamos tomamos uma Skol em lata cada um – não precisa falar que só faltou engolir a lata.


 Após o pequeno lanche, Andréa seriamente pediu a atenção e nos contou da sua espiritualidade e na importância de avaliarmos o que ela estava sentindo naquele momento: 
- “... meu coração pernambucano esta pedindo pra gente ficar na cidade e não tomarmos mais chuva“...


Fomos diretos e falamos “não“ e continuamos os últimos 12 km até o lugarejo “Lajinha da Serra”... RS e ela com o constante Mozim... Mozim.... rs

 Não há posto de gasolina na região, então peça informações e se precisar compre gasolina na venda perto da igreja de Santana.

 A estrada até o lugarejo se apresentou mais travada, com mais barro e buracos, castigada pela chuva, nossa quinta companheira de aventura.
  
Entre vários lamaçais encontramos um que tivemos ouvir o conselho da Andréa, que teve que abandonar o barco para que a XRE passasse sem garupeira. As motos receberam água até acima da metade da roda, tampando o bloco do motor, mas passou, pois o fundo é cascalhado. (segundo moradores neste local no réveillon mais de 20 carros voltaram pra casa em cima de guinchos) e a Andréa quase precisou de uma corda pra tirar ela do atoleiro.



Assim chegamos as 22h30min e adentramos com as motos no camping das Bromélias. O proprietário Bráulio estava ruando e montamos as barracas sob as luzes das motos.


Tomamos um dos melhores banhos de nossas vidas, em um banheiro super estruturado com água quente, papel higiênico, tapetes ao chão e até cortinas brancas, chique demais! Nunca vimos um banheiro de camping no meio do mato tão chique, coisa de mineiro, isso sim é ter bom gosto, além de tudo um amplo vestiário.


O local une o conforto de um local limpo, seguro, com café da manha e uma receptividade que dá gosto que prazer um acampamento.

Pronto! Já orgulhosos com o sucesso da chegada, com a alma lavada, banho tomado e de roupinha de gente (pois roupa de Cordura suja de barro espanta qualquer um) saímos à procura de um local para nos confraternizarmos.  


O lugarejo Lapinha da Serra é base de turistas que gostam de natureza, e não nos atreveríamos a certamente nem conseguiríamos explicar a energia do local, deixaremos a sensação para aqueles que queiram visitar e para poetas, como a iluminada Ana Lúcia (Aninha) – dona do melhor e mais lindo bar do local “Tá massas” – requintado com uma decoração típica mineira de altíssimo nível e bom gosto.


Como ninguém é de ferro e estávamos explodindo em êxtase, saboreamos um lagarto com alcaparras e pão sírio e pra acompanhar seis doses de Germana, varias Skol long neck, Run e uma porção caprichada de lingüiça caseira.


 Há oito anos no lugarejo ela nos conta um pedacinho da sua historia de vida, e enquanto conversávamos sobre a particularidade lingüística da região, que possui um dialeto próprio chamado Nhangatu, enquanto nossos ouvidos eram massageados com uma musica ambiente e de volume moderado de uma coleção de discos de vinis – Chico Buarque, Paulinho da Viola, Clara Nunes, Maria Rita, Maria Betânia e entre outros. Assim, o papo rendeu madrugada adentro e os fregueses/clientes/turistas que ela trata, sem demagogia, com o mesmo carinho dispensado aos amigos foram embora e ela se juntou a nós, chamando a amiga Cláudia e a irmã Lúcia para compor a roda de bate papo.
  

La pelas tantas o papo tomou outro rumo quando descobrimos que a então amiga Cláudia, guia turística, trabalhou na mesma empresa que trabalho a oito anos – saindo da Avimig um pouco antes da minha entrada e ela agora faz parte do nosso objetivo que é fazermos a travessia de três dias Lapinha – Tabuleiro que devemos fazer em Abril.

Cláudia ainda é responsável pela Pousada Lapinha da Serra (http://www.pousadalapinhadaserra.com.br) Segue Email de contato da Cláudia e telefone: Tel.031 9136-4123 - tiaclaudia_lapinha@yahoo.com.br 



Rompemos a madrugada e fomos dormir às 3 da manhã.


No outro dia de manha, acordamos com o sol rachando o acampamento e nos deparamos com um paredão virtuoso que cerca a região e após um gigantesco e caprichado café da manhã organizado pelo, agora amigo Bráulio. 
 
Ainda de manhã tivemos a grata visita da Lúcia, irmã da Aninha
Ela e seu cão nadador que nos acompanhou pelas cachoeiras que circulam o povoado – mas como sorte pouca é bobagem e só acontece com pessoas iluminadas (la...la...la...), descobrimos que a Lúcia na verdade é um anjo da região - Dra Lúcia, médica responsável e participa do Projeto Saúde da família que visita nos lugarejos as casas da região dando consultas. A cada pessoa, criança que aparecia na frente dela parávamos, e ela tratando a todos atenciosamente pelo nome e apelido - realmente como um médico da família.

Para nossa felicidade, o "Claudemir Azevedo" além de talentoso é fissurado com fotografia, assim deixamos por conta dele registrar nosso passeio.



Não há o que falar das cachoeiras e sim visitá-las – seguem as fotos para aguçar a vontade de vocês irem, mas é surreal 





Saímos da cidade às 14 horas rumo a Santana do Riacho e decidimos pegar uma estrada mais curta e de melhor facilidade visto que o tempo virou e uma chuva torrencial nos acompanhou até Lagoa Santa.

É uma estrada melhor, mas cascalhada e a “oficial” usada para ir para Belo Horizonte, mas sem sinalizações, então sempre que puder converse com o povo local para se orientar.

Você sai sentido a serra do cipó e a 2 km da saída vc chega a um vilarejo chamado Mangabeira, entrando pelo asfalto à direita, andamos 40 km sempre optando pela estrada da esquerda até chegar à rodovia principal que vai de BH – Serra do cipó. Lá você já pega sentido a BH à direita, mas o ideal, na dúvida é perguntar, pois você nunca sabe quando encontrará alguém.

Na volta Andréa já se comportando como co-piloto, indicando o melhor caminho, qual a melhor poça, velocidade ideal e comentaram da situação de termos saído às 16 horas de um sábado, participado de tantas experiências de vida com variadas sensações, nos orgulhar das nossas conquistas, conhecermos pessoas iluminadas, aprender novas histórias em 24 horas de existência e finalizou em um desabafo: Isto ninguém nos tira mais.

Esta é a vida, cheia de mistérios e com pouco gasto de recursos podemos viver muito mais e com qualidade, apreciando beleza, convivendo com pessoas sábias, mas acima de tudo pessoas com um conhecimento e estrutura de vida que nos faz valorizarmos o que realmente a vida pode nos favorecer, novas amizades, lugares e prazeres, e assim a vida continua com vários obstáculos, porém com a fé e “liberdade de viver." Lapinha, obrigado por nos proporcionar esses valores e riquezas, obrigado por nos mostrar a verdadeira realidade de uma vida com amor e qualidade.



Chegamos a BH às 15 horas onde alguns amigos tomavam cerveja com as motos limpinhas e feita as despedidas o Azevedo partiu para João Monlevade




Arvores BH Adventure = 900 km Sahara X dois integrantes = 18 arvores + 350 km XRE X dois integrantes = 7 árvores totalizando 25 arvores
Abraços,

Texto: 

Andréa Bezerra, Carlos Bruno e Claudemir Azevedo